sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Reflexões de Um Maltrapilho


Reflexões de Um Maltrapilho Mt  e Mc  II Co
 *** Contemplados pela Graça, Misericordia e Amor de Deus.
Antes de começar...

Os dicionários denem maltrapilho como “esfarrapado”, “roto”, “pelintra”, “men- digo”, “pedinte”. Mas a denição bíblica de maltrapilho vai muito além, como mostra qualquer exame rápido das Escrituras.
  • ·         Desprovido
  • ·         Pobres e pequeninos
  • ·         Barro
  • ·         Objeto Especial da ternura e da misericordia de Deus - Graça de Deus

Ao passearmos tranqüilamente pelos corredores da história da salvação, obser- vamos que Deus sempre demonstrou um afeto especial pelos pobres e pequeninos, pelos humildes de coração. Desde o instante em que a teocracia é formada, no monte Sinai, Javé quis de Israel a compreensão de que ele esperava algo mais de seu povo eleito que a mera observância externa à lei mosaica. Com o passar dos anos, foi cando cada vez mais evidenciado para os israelitas o fato de serem exatamente os maltrapilhos (osanawim — literalmente, “pequenos e pobres” —, como eram chamados em hebraico) o objeto especial da ternura e da compaixão de Deus.
A princípio, o termo maltrapilho tinha contornos somente sociológicos ou eco- nômicos. Os maltrapilhos eram os desabrigados, os sem-terra, os meninos e as me- ninas de rua, os despojados, a quem um dia Deus tornaria novamente prósperos. Mais tarde, com a inuência do profeta Isaías, o termo adquiriu sentido espiritual de enorme profundidade. O ministério de Isaías iniciou-se com uma visão de Deus “assentado num trono alto e exaltado [...]. Acima dele estavam serans [...]. E proclamavam uns aos outros: ‘Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos...’”. A visão deixou em sua alma uma marca incandescente e indelével: Deus é totaliter
aliter, Totalmente Outro. Os sentimentos humanos não podiam tocá-lo, e o pen-
samento humano não era capaz de contê-lo. Como Charles de Foucauld aprendeu no momento de sua conversão: “Deus é tão grande que há uma distância innita entre Deus e tudo o que não é Deus”.
A idéia do mistério é ainda desconcertante para boa parte das mentes moder- nas, mas constitui a pulsação dos profetas e dos santos de todas as eras. Eles sabem que Deus pode fazer qualquer coisa e agirá desde que os homens e as mulheres sejam su cientemente humildes para reconhecer que necessitam dele.
Os profetas posteriores, seguindo os passos de Isaías, chamaram a essas pes- soas simples e humildesanawim ou, transpondo para um conceito que possamos entender hoje: “maltrapilhos”. Foi assim que os vocábulos relacionados à pobreza deixaram de ter sentido exclusivamente econômico para também abarcarem nu- anças espirituais. No alicerce dessa mutação, estava o princípio de Isaías: Deus
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8executa seus atos divinos somente quando as pessoas reconhecem a insu ciência
humana delas próprias (ou, no linguajar dos AA, sua “impotência humana”). Os verdadeiros amigos de Deus foram aqueles que se sentiram realmente pobres diante dele. Perceberam que o ato mais fundamental da religião era o fato de deverem a vida e o próprio ser a Outro. A dependência e a rendição amorosa consistiam para eles próprio fôlego de vida. Os maltrapilhos eram os pobres em espírito, pequenos aos próprios olhos, cientes de sua nudez e pobreza diante de Deus, por isso mesmo entregando-se sem reservas a sua misericórdia.
Era esse o espírito que Deus procurava em seu povo; é a única atitude que con- diz com a condição de criatura própria do ser humano. Alia um senso de impotên- cia da pessoa com uma con ança infalível no amor de Deus e uma rendição total à orientação de sua vontade. Os maltrapilhos eram na realidade o remanescente, o verdadeiro Israel para quem as promessas messiânicas haviam sido feitas.
Quando por m o Filho de Deus abre as cortinas da eternidade e lá em Belém nca o pé na história humana, os que dão o passo de encontrá-lo são os verda- deiramente pobres em espírito: José, Zacarias e Isabel, Simeão e Ana, os pastores e os magos. Esses formaram sua corte, o remanescente sagrado de maltrapilhos prometido pelos profetas. Muito antes, porém, o olhar de Deus havia repousado com afeição especial sobre Maria, a jovem judia de Nazaré. Ninguém era mais ver- dadeiramente pobre em espírito, tão profundamente ciente de necessitar dele, tão inteiramente rendido a sua vontade. Foi por isso que ele a escolheu para ser a mãe do Messias — o menor e mais humilde na longa sucessão de maltrapilhos.
Como era de esperar, quando Jesus começa seu ministério profético, de imedia- to identi ca o espírito de maltrapilho que havia nele: “... aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração...”. E que dizer do primeiro grupo chamado para o reino? “Bem-aventurados os pobres em espírito, pois deles é o Reino dos céus.”
Meditações para maltrapilhos consiste numa série de reexões escritas num
espaço de 22 anos — anos de alegria e sofrimento, de delidade e indelidade, de compromisso intenso e graves recaídas, de vida desordenada e esforço intenso por ser el a Jesus. Compartilho essas reexões com um alvo especíco em men- te: não desejando transmitir pensamentos inspiradores, mas esperando despertar, ressuscitar e reavivar uma conança radical e inamovível no Deus representado em forma corpórea no Carpinteiro de Nazaré.
Creio piamente que o esplendor de um coração humano que con e na verdade de ser amado de modo incondicional confere maior prazer a Deus e lhe traz mais deleite do que a catedral mais magní ca jamais erigida ou o órgão mais estrondoso jamais tocado.

Conar de forma inabalável hoje num maltrapilho é algo extraordinário, por- que em geral exige um grau de coragem que chega às raias do heroísmo. Quando a sombra da cruz de Cristo recai sobre as pessoas na forma de fracassos, pesares, re- jeição, abandono, desemprego, solidão, depressão, a perda de um querido; quando camos surdos a tudo o mais, exceto ao bramido estridente da nossa própria dor; quando o mundo ao redor repentinamente se apresenta como um lugar ameaçador e hostil, bem podemos bradar de angústia: “Como um Deus de amor permite que isso aconteça?”. E assim é lançada a semente da desconança, obrigando-nos a uma situação de escolha: nos afastaremos de Deus, ou nos voltaremos em direção a ele mesmo quando a escuridão o esconde de nossa visão? Escolher a luz de Deus na noite escura do desespero é um ato heróico de coragem.
Continuo a deparar com essa escolha nos momentos mais sombrios, solitários e desalentadores de minha vida. Ao convidá-lo a unir-se comigo nessa viagem de maltrapilho, não peço mais de você do que peço de mim mesmo: que cone no amor de Deus não importando o que nos aconteça.
Brennan Manning 

Pr Eliel A Soares Ministrei esta reflexão na Reunião de Obreiros do Ministério no dia 07 Março de 2011


O Evangelho Maltrapilho

Sinopse:

BM-evangelhomaltrapilho O evangelho maltrapilho foi escrito para pessoas aniquiladas, derrotadas e exauridas. Pessoas que se acham indignas de receber o amor de Deus. 
Quem sabe, ignoradas pela comunidade de cristãos por não se encaixarem no perfil de super-homem ou de supermulher que lhes é constantemente exigido. Pessoas cansadas da espiritualidade superficial e consumista. Pessoas que travam inúmeras batalhas interiores por não se sentirem parte de uma comunidade afetiva e acolhedora.
É um livro que escrevi para mim mesmo e para quem quer que tenha ficado cansado e desencorajado ao longo do Caminho, confessa o autor.
Franco e provocador, o aclamado filósofo e teólogo cristão Brennan Manning estréia em língua portuguesa com sua principal obra, que nos convida a depositar nossa esperança na amplitude da graça, capaz de alcançar pecadores e pobres em espírito, e de resgatar nossa dignidade original.
No mínimo, você não ficará indiferente a ela.

Fonte: Semeadores da Palavra

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